Empresa de linhas de ônibus da Zona Sul fecha as portas
Em mais um desdobramento da crise que atinge o setor de transportes públicos do Rio de Janeiro, a Viação São Silvestre, localizada no Santo Cristo, fechou as portas ontem. A companhia empregava cerca de 500 rodoviários e operava 15 linhas que circulam pela Zona Sul e pelo Centro.
Para garantir a continuidade do serviço, obrigação prevista no contrato de concessão, o consórcio Intersul acionou um plano de contingência, deslocando ônibus de cinco empresas para suprir a demanda.
A mudança pegou de surpresa cariocas e turistas. Morador de Vitória (ES), o militar Márcio Henrique Souza Andrade, de 41 anos, estava na Urca e queria ir até o Corcovado, mas teve dificuldade para identificar os veículos que substituíam os da São Silvestre na linha 581 (Leblon-Cosme Velho).
— Já estava há cerca de 15 minutos em um ponto de ônibus quando alguém avisou sobre o problema. Resolvi caminhar até o shopping Rio Sul e fiquei por lá — disse o militar.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus (Sintraturb), Sebastião José da Silva, os funcionários da empresa estão com cinco meses de salários atrasados.
— É uma crise sem precedentes, causada por autoridades e empresários, mas quem paga o preço é o trabalhador. São mais de 6.300 rodoviários desempregados no decorrer de 2017. É um fim de ano dramático — lamentou Sebastião.
A São Silvestre estava à beira do colapso financeiro desde o início do mês, segundo o Rio Ônibus, sindicato que representa as empresas do setor. De acordo com a entidade, outras 11 viações podem fechar as portas. As companhias em crise são responsáveis por 114 linhas, o que representa 25% de todo o sistema.
— É extremamente desagradável saber que mais rodoviários vão passar o ano novo desempregados. Quando uma empresa fecha, as outras integrantes dos consórcios são obrigadas a suportar a demanda. Não temos como multiplicar carros e motoristas, então isso acaba provocando um efeito cascata que agrava ainda mais a situação — afirmou Cláudio Callak, presidente do Rio Ônibus.
O anúncio do fim das operações da São Silvestre aconteceu no dia em que foi publicada a última edição de 2017 do Diário Oficial do município. Havia uma expectativa, entre as empresas de ônibus, de que o prefeito Marcelo Crivella homologasse o reajuste anual da tarifa, previsto no contrato de concessão, o que não aconteceu. Este ano, não houve reajuste, e a Justiça decretou duas reduções no valor da passagem. As viações, por sua vez, não cumpriram um acordo para climatização de toda a frota.
— Temos diversas empresas com dificuldades para honrar os compromissos trabalhistas. Esperávamos um aceno da prefeitura. As viações tentam superar as dificuldades, mas o município precisa fazer a parte dele — disse Callak.
Em nota, a prefeitura frisou que “o assunto tarifa está sendo tratado judicialmente”. Questionada sobre o encerramento das operações da São Silvestre, a Secretaria municipal de Transportes destacou que não mantém “relações individuais com as empresas, mas, sim, com os consórcios”. “Em caso de paralisações, greves e fechamentos, os consórcios têm obrigação contratual de absorver as linhas e manter o serviço de forma regular e satisfatória aos usuários do sistema, sem prejuízo aos mesmos. Os consórcios devem apenas informar à prefeitura sobre a nova composição do mesmo”, diz um trecho de um comunicado do órgão.
Em protesto contra demissões e atrasos nos salários, rodoviários planejavam fazer uma paralisação amanhã. Porém, a manifestação foi proibida ontem, por meio de uma liminar do desembargador Evandro Pereira Valadão Lopes, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. Segundo o magistrado, “no momento escolhido”, a greve poderia causar danos a terceiros.
Com o fechamento da São Silvestre, sobe para oito o número de viações que encerraram as operações nos últimos dois anos.
Fonte : O Globo